facce

domingo, 27 de maio de 2012

A RUA DAS ALMAS ALÉM DE ABRIGAR O CEMITÉRIO DE QUINTAS DOS LÁZARO TAMBÉM REVELOU ALGUNS JOGADORES PARA O FUTEBOL BAIANO.

                          

 
Entrada  principal da Rua das Almas.
                                       
“Conta-se que lá pelos anos 50/60 era comum vi-se a pé após as farras no centro e arredores. Ao chegar à Baixa de Quintas o boêmio encontrava a companhia de uma bela morena de branco. Naturalmente o camarada se empolgava com a beleza da morena e oferecia companhia até em casa, o que era aceito de imediato.

A moça indicava o caminho da ladeira do cemitério o local onde ela morava, ao contrário do que muitos pensam este também era local de namoro. Só que ao chegar ao muro ela se dirigia ao portão do cemitério e passava por este fechado. Aí... não tem romance certo,o infeliz se arrepiava todo e saia em disparada.” Esse e outros causos são contados pela velha guarda da Cidade Nova(Carlito, Eraldo, Ivan,Jorge,Carlos Anjos) que se reúnem diariamente na barraca de Nega do Bicho no largo da Cidade Nova conhecida também como, Praça Caldas Barbosa.

Carlos Anjos, conta que a Rua das Almas tem uma transversal ao lado do cemitério que durante muito tempo foi considerado mal assombrada. “Ouvia-se as Almas gemer”, poucos eram os corajosos que se atreviam a passar por esta rua após as 18h, já que o local era bem escuro e fazia medo os gemidos. Com o passar dos tempos e o crescente urbanização da rua foi cortada o imenso bambuzal do local. Para felicidades de muitos que utilizavam este caminho para ir às sentinelas, acabaram–se os gemidos das almas penadas.

Supertições a partes, mas o Cemitério de Quintas dos Lázaros possui quase 60% do seu território margeado pela Rua das Almas e mesmo abrigando túmulos de personalidades como, Cosme de Farias, Carlos Marighela, os cangaceiros, Corisco, Azulão, Zabelê, canjica e Maria de São Pedro (dona de famoso restaurante no comércio), sofrem com a insegurança, falta de estrutura, abandono, falta de investimento e até atos de vandalismo.

Transversal que faz a ligação com a rua do cemitério.

O cemitério das Quintas, como é conhecido foi fundado em 1785, com área de 140 mil m2 e até hoje ainda não foi concluído o muro de proteção. A Secretaria de Saúde do Estado(SESAB)  é quem administra  e garante o sepultamento gratuito a população. São cerca de 12.800 covas no chão e que não atende a demanda, há também mausoléus reconhecidos como obras de artes que abriga famílias tradicionais da Bahia como, Otávio Mangabeira, Raymundo Nina Rodrigues, Ernesto Simões Filho e Aristides Maltez.  


Futebol e Culto aos Mortos

Quem conhece a Rua das Almas seguramente sabe onde se localizava o campo de Moreira e onde funcionou a Liga de Futebol da Rua das Almas por mais de trinta anos surgida de uma extensão da fazenda da Moreira onde funcionou uma fábrica de sapatos. Após a falência da fábrica o local serviu para revelar jogadores para o futebol baiano e paulista. Saíram daqui, Vadinho Coqueiro (Galícia, Leônico), Jando(interior de S. Paulo), Elías(Galícia, Botafogo), Dilton Uchôa( Vitória) e mais recentemente, Rafinha(Guarani de Minas), Normando ( Bahia) e  Dancker ( Vitória, ele é neto de Vadinho Coqueiro), quem faz a revelação é Gerson Alpedriz da Silva, popularmente conhecido como Esquerda.
 
Local onde funcionou o Moreirão.
Gerson revelou ainda que a liga de futebol finalizou suas atividades em março deste ano por que no local onde existia o campo foi construído um conjunto residencial do programa Minha Casa Minha Vida e ainda não se sabe quem irá morar nos apartamentos construídos. O fechamento da Liga trouxe prejuízo para toda a comunidade, já que algumas famílias viviam do comércio (bares e lanchonete) inclusive ele próprio, que conta com a idade de 55 anos, tirava o sustento da família com a renda dos jogos e ainda não consegui se aposentar.                         

Ele ainda sonha com uma alternativa para amenizar o prejuízo, a comunidade se mobilizou com abaixo assinado para incluir na construção do conjunto a construção de uma quadra de futebol de salão, esse documento foi encaminhado à CONDER e ao ver Palhinha, mas até o momento nada foi feito.


Recostado no bar de sua propriedade, Gerson, relembra saudoso a união da comunidade e os festejos de finais de ano: ”juntavam pais e mães para brincar, umas 50 pessoas e alugávamos espaço. Hoje é difícil até encontrar as pessoas, vendíamos 15 caixas de cerveja e hoje para vende duas caixas está um sacrifício, além de tudo isso estreitaram mais a rua para construção do conjunto e não dá mais para os carros passarem”.


Caminhando pelo largo do cemitério, encontramos o aposentado Valdemar da Silva Pedreira, 73, ex-jogador de futebol Vadinho Coqueiro, trabalhando na banca de flores da sua família. Ele nos conta que teve seis filhos, todos os homens, além dele o filho - Lula jogou nas divisões de base do Vitória e é pai do jogador do Vitória, Dancker.

Vadinho passa o tempo
confeccionando flores. 

Questionado sobre o apelido,Coqueiro diz que veio da adolescência quando subia nos coqueiros da roça de Moreira para roubar cocos, os amigos então puseram o apelido. Com passagem curta no esporte diz que não ficou rico porque naquele tempo não se ganhava dinheiro com futebol e questiona, "lembra-se do Garrincha?"
Aposentado depois de 37 anos de carteira como cabista telefônico, nas horas vagas distrai-se vendendo flores, confeccionando coroas e decorações para igrejas.

Já o Sr. José Cupertino dos Santos, 61 anos e trinta como Agente de Portaria desmente aos que lhe chamam de coveiro, segundo suas informações a Sesab não contrata profissionais com esta denominação. Declara também que tem orgulho da sua profissão e que nunca sentiu mal estar em enterrar os defuntos, só houve um pequeno receio quando estava no início da profissão, na hora do almoço: ”a carne do ser humano é que nem a de bicho” explica.
Cupertino afirma que é
Agente de Portaria.



Durante a sua experiente em Quintas, Cupertino, conta que viu apenas alguns candidatos a coveiros se arrependerem  no primeiro dia de trabalho, quando se deparam com o defunto no caixão.Ele nunca se sentiu mal e nem enterrou nenhuma artista ou personalidade, pois segundo suas palavras,” Quintas é um cemitério público e só pessoas humildes veem pra cá”.





Colaborou:

Carlos Alberto dos Anjos
·        carloanjos@hotmail.com

Referências:
Jornal à Tarde,
Blog:Cangaço na Bahia - Professor Rubens Antônio, UNEB.

Fotos:

                                                             Ladeira do cemitério de Quintas dos Lázaros.

Vista panorâmica de Quintas e Vila Laura.

Os moradores comercializam flores o ano inteiro.
             
                                              













16 comentários:

  1. Parabéns Paulo.
    Você me incluio na turma da barraca de Nega, vige, o filho de Angelica do 18 é pedreiro do Cemitério.
    Se você não tiver medo pode ainda fazer matéria sobre os mausoléus, cemitério dos religiosos e dos judeus.
    Se quiseres ainda pode render assunto.
    Carlos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É isso mesmo Carlos a idéia é explorar mais o assunto,porém estamos com a pauta cheia até o mês de julho pois vários eventos irão ocorrer nas ruas do bairro,então precisamos acompanhar.O mais interessante para mim nesta matéria foi saber do fechamento do campo de Moreira e as consequências para a comunidade.Vamos entrar em contato com as autoridades públicas para vê se podemos dá um jeito. Abs!

      Excluir
  2. Florescendo um pouco mais sobre a matéria segue alguns fatos sobre o CEMITÉRIO DA QUINTAS DOS LÁZAROS:
    Fundado em 1785, simultaneamente à criação de um hospital exclusivo para o tratamento de portadores hanseníase (lepra), o local estava situado oficialmente na região da antiga “Quinta dos Tanques“, mas ganhou a denominação atual por abrigar corpos de vítimas do mal associado ao nome do santo.
    No século XIX, relatos populares davam conta de que a capital baiana sofria enormemente com a sujeira no meio das ruas, o que trazia diversas moléstias à população. Eram comuns em Salvador diagnósticos de peste bubônica, cólera, hanseníase e febre amarela. Com o crescimento acentuado do número de óbitos e a necessidade de haver locais de sepultamento para os corpos, o cemitério, antes exclusivo dos pacientes do hospital da Baixa de Quintas, foi aberto oficialmente em 1855 aos demais mortos soteropolitanos. A decisão ajudou a encerrar a prática de enterrar corpos nas igrejas, antigo costume local. A criação da Quinta dos Lázaros foi uma das primeiras medidas de saneamento público tomadas em Salvador.
    Por volta de 1895, o cemitério, que era administrado pela Santa Casa de Misericórdia, foi dividido em 26 quadras e distribuído entre entidades diversas, como a Sociedade Beneficente Monte Pio dos Artistas, Loja Maçônica Liberdade, Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora da Conceição do Boqueirão, Associação Tipográfica Bahiana e Irmandade dos Quinze Mistérios. As instituições, cada uma a seu ritmo, construíram carneiros adequados aos sepultamentos e até os tempos atuais conservam a administração das zonas da Quinta. A parte das covas rasas, destinada os indigentes e aos enterros gratuitos, é administrada pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab).
    Apesar de ser conhecido atualmente como a última morada da camada mais pobre da cidade, a Quinta dos Lázaros abriga os restos mortais de personagens que fizeram a história da Bahia e do Brasil, a exemplo do guerrilheiro Carlos Marighella, morto em 1969 em São Paulo. Seu túmulo foi projetado pessoalmente pelo arquiteto Oscar Niemeyer, mas hoje encontra-se em completo estado de abandono. Dividem a terra do cemitério com Marighella o advogado popular e político Cosme de Farias, a yalorixá Mãe Bibiana do Espírito Santo. (Dados fornecidos pelo Jornal A Tarde)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Fátima, que beleza de informações que você postou. Vou atualizar o blog com as novas informações. Pela frequência e riqueza de suas contribuições irei lhe incluir no grupo de colaboradores fixos,ok?Assim vc poderá além de sugerir matérias,também poderá escrevê-las. Um abraço.

      Excluir
    2. Muito obrigada, sempre que puder irei contribuir para o blog.
      valeuuuuu.

      Excluir
  3. JOILSON SANTOS AMORIM9 de agosto de 2012 às 11:02

    BOM A DIA A TODOS LEITORES DESTE BELÍSSIMO SITE ME CHAMO JOILSON AMORIM SOBRINHO DE JORGE E FILHO DE JESSÉ, APRESENTADO COMO VELHA GUARDA DESTE BAIRRO NASCE NA CIDADE NOVA, LAVEI COVA COMO TODO MENINO POBRE DESTA COMUNIDADE, HOJE AOS 40 ANOS MORO EM ARACAJU. AQUI SOU 1 SARGENTO DA POLICIA MILITAR COM 23 ANOS DE SERVIÇO, E PROFESSOR DE FILOSOFIA. 23 ANOS É JUSTAMENTE O TEMPO QUE TENHO FORA DE SALVADOR MUITO ME EMOCIONEI EM VER O NOME DO MEU TIO NESTA MATÉRIA, AGRADECIDO FIQUEI DE CORAÇÃO. MAIS ME RESTOU UMA PERGUNTA. ONDE ESTÃO AS REVELAÇÕES. POPO, LUIZ CARLOS DOREA,NÃO FUNDARAM NEM UMA INSTITUIÇÃO SE QUER NO BAIRRO NEM UM CAMPO CONSTRUÍRAM, FILHOS INGRATOS OBTIVERAM TANTO, E NÃO FIZERAM NADA, LEMBRO-ME QUANDO IA PARA O BALBINHO GRITAR PELO NOME DE DOREA ACOMPANHADO PELO SAMBÃO DE JORGE EXU..... NOSSA QUANTA INGRATIDÃO.MINHA FAMÍLIA CONTINUA AI EM FIM MEUS RECURSOS SÓ PERMITEM AJUDAR MAU MENTE A ELES. E ESSES CAMARADAS. GANHANDO TANTO MILHÕES UM É ATE DEPUTADO. QUE VERGONHA DE SENTIR A VELHA GUARDA. REFLICTO NA SAUDADE DE JORGE MEU AMADO TIO.

    SOU CONHECIDO COMO. TITINHO. FILHO DE JESSÉ.
    UM FORTE ABRAÇO.

    ResponderExcluir
  4. Caro Joilsom,
    Eu também me emocionei ao ler os seus comentários sobre o bairro e principalmente pela sua mensagem de amor ao seu tio Jorge, pessoa de quem eu tanto gostava. Você juntamente com alguns amigos me incentiva a continuar divulgando o nosso querido bairro e a preservar a sua memória para as novas gerações. Espero tê-lo como um dos nossos seguidores.
    Gostaria também de fazer a defesa do nosso grande ídolo, Luís Dórea,já que ele se tornou vitorioso apenas com os seus próprios méritos e ainda ajudou a formas duas grandes lendas do esporte baiano(Popó e Junior Cigano),cresceu e nunca saiu do bairro.A academia Champion é um sonho de sucesso realizado,que ajuda a formar vários jovens e a divulgar o bairro como,”o bairro brasileiro do Box” .
    Você sabia que o Luis será candidato a vereador?Pois é!Iremos apoiá-lo porque conhecemos e respeitamos o seu trabalho,acredito que você também.Um grande abraço.

    ResponderExcluir
  5. A mais de 30 anos atraz fui muitas vezez nesse bairro encontrar com meu unico e verdadeiro amor,hj ele não esta mais entre nós ,foi sepultado ai nesse cemiterio...guardo muitas lembranças ele tbm era morador da rua das almas...obrigada foi bom.

    ResponderExcluir
  6. Anônimo.Fiquei feliz de saber que nossas matérias tem contribuido com antigas recordações de amor de nossos seguidores.Sua história é única e bonita, espero que vc tenha ficado feliz.Abraços.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi caro Paulo sim fiquei muito feliz em recordar esta parte de sauvador. Moro em Sao Paulo e só assim consigo me remeter com clareza ao passado,...que muitas alegrias me trouxe...estarei sempre ligada em vcs.Sim realmente minha historia é unica mesmo pois homem como Dilton Uchoa so existiu um... abraço

      Excluir
    2. Dilton foi um dos primeiros ídolos esportivo do nosso bairro que fez fama tanto no futebol como no box, ele também ajudou a formar seguidores como Luis Dorea e Acelino Freitas. Pena que se foi muito cedo...Nos ajude a contar essa historia mandando informações.Abraços!

      Excluir
    3. Gostei muito desta história, pois morava nas próximo ladeira de São João, minha infância foi toda na rua das almas, fui campeão seguidas vezes no campo de Moreira jogando bola ao lado de vadinho, jando.Fico muito satisfeito ao ver este documentário. Luiz carlos(Lula)

      Excluir
    4. Legal Lula que vc tenha gostado. Estamos tentando realizar um filme documentário sobre o bairro, aguarde.Abraços.

      Excluir
  7. Realmente... Dilton Uchôa é uma grande referência no box baiano... Um dos fundadores

    ResponderExcluir